Por Paulo Ivo Rodrigues Neto
A celebração do casamento civil é um dos atos mais solenes do Direito de Família, pois envolve a constituição da entidade familiar e a geração de direitos e deveres entre os cônjuges. No imaginário popular, circula a “brincadeira do não” no momento da manifestação de vontade diante do Juiz de Paz. Ocorre que, em termos jurídicos, um “não” proferido nesse instante tem efeito imediato: o impedimento da realização do casamento. Mesmo que a parte alegue, posteriormente, tratar-se de uma “piada”, a manifestação negativa é levada em sua literalidade, anulando a solenidade.
O Marco Legal
O Código Civil de 2002, em seu artigo 1.535, determina que:
“Presentes os nubentes, em pessoa ou por procuração, perante o juiz de paz, este, em audiência pública, os declarará casados, depois de terem respondido afirmativamente à pergunta sobre sua vontade de estabelecer vínculo conjugal.”
A lei é clara: a resposta deve ser afirmativa. A ausência de resposta ou a resposta negativa impede a formação do vínculo. O casamento somente existe juridicamente se ambas as partes confirmarem sua vontade expressa.
Além disso, a manifestação deve ser livre de vícios, conforme os artigos 138 e seguintes do Código Civil, que tratam do erro, dolo, coação e simulação.
O Efeito da Brincadeira
A “brincadeira do não” equivale juridicamente a uma recusa expressa. O Juiz de Paz não possui discricionariedade para interpretar a resposta como uma piada ou para “dar prosseguimento” à solenidade. Sua função é de garantidor da legalidade.
Portanto, mesmo que a pessoa posteriormente alegue “era brincadeira”, o efeito jurídico já ocorreu: o casamento não se realizou. Para que seja possível o matrimônio, será necessário novo procedimento, com habilitação e nova solenidade.
A Importância da Seriedade do Ato
O casamento não é apenas uma festa ou evento social, mas um ato jurídico com consequências patrimoniais, sucessórias e pessoais. A formalidade da resposta afirmativa garante a certeza da vontade. Assim, a jurisprudência e a doutrina entendem que não há margem para interpretações subjetivas no momento da declaração de vontade.
Considerações Finais
O famoso “não” diante do Juiz de Paz, ainda que em tom de brincadeira, tem efeitos jurídicos sérios e imediatos: impede a celebração do casamento. Essa situação revela a importância da seriedade do ato matrimonial e reforça a necessidade de que os nubentes compreendam as consequências de sua manifestação.
A lição que fica é que o Direito não brinca com o consentimento matrimonial. O “sim” deve ser claro, livre e inequívoco.


